Um título tanto quanto provocativo, uma reflexão e uma direção de pensamento. Foi dessa forma que um dos precursores nas artes digitais conseguiu mexer com a cabeça de vários artistas, escritores, músicos e designers que estavam prontos para abraçarem a nova onda no domínio informacional.
Frieder Nake, alemão nascido em Stuttgart (1938), é reconhecido como pioneiro na arte computacional. Matemático e cientista da computação formado pela Universidade de Stuttgart, ficou conhecido internacionalmente por sua contribuição para as primeiras manifestações nesse novo campo que une arte e tecnologia em um único caminho evolutivo.
Membro da Computer Arts Society, Nake propôs um olhar sobre o uso do digital para produção artística em um artigo publicado no Bulletin, em outubro de 1971 (edição 18). Para a época, a influência algorítmica era vista com um certo desconforto.
A discussão levantada por Nake tinha contornos polêmicos, porém elucidativos. Suas ideias refutavam uma exploração, digamos, mais mercadológica do digital como construtor do conceito estético.
A mensagem de Nake é um despertar para o fato de que o computador era apenas um meio de desenvolvimento da expressão da arte e um instrumento que permite explorar, investigar melhor os caminhos da criação artística.
AMEAÇA À ARTE OU O PROGRESSO?
O artista seria menos artista se não dominasse ou não tivesse acesso a um maquinário caro como o daquela época? No entendimento a respeito do artigo, posso dizer que Nake despertara o consciente coletivo, refutando a pergunta - expressa que isso não era a reflexão a ser feita.
Aponta um caminho para o pensamento de que o meio era apenas uma forma de desenvolvimento. O que mais importa em seu argumento é a informação estética em si e o seu real background (motivo).
O matemático defendia que o computador não deveria ser usado para criar outra moda artística. Mas sim, usado para pensar todas as formas estéticas já existentes e como elas poderiam se desenvolver. Para ele, fazer arte no computador não era o objetivo. Em 2004, chegou a mencionar que "os desenhos não eram empolgantes, mas o princípio envolvido era".
Nake propôs quatro questionamentos que, juntos, podem representar um chamado para revermos a importância de todo o padrão estético construído até então. Propôs refletirmos como que projetando o futuro e a transformação de todos os signos e formas de comunicação já utilizados.
Para chegar a este ponto, ele trouxe um pensamento do quão efêmera é a moda ano após ano, citando o estilismo e a industria automobilística como exemplos.
De fato, o que houve depois disso foram caminhos paralelos. Ao mesmo tempo em que surgiu uma verdadeira estética algorítmica (marcada por assinaturas e épocas, como os "8bit" ou "Matrix", diga-se), a evolução computacional - e aqui devemos trazer as evoluções tanto em hardware quanto em linguagens de programação - nos trouxe uma ampla capacidade de processamento e com isso a produção de obras de todos os padrões estéticos possíveis e imagináveis por meio do digital.
ARTISTA, MATEMÁTICO, PESQUISADOR E PROFESSOR
A trajetória de Frieder Nake na arte digital teve início em 1963, e seus desenhos foram exibidos pela primeira vez em novembro de 1965, no Galerie Wendelin Niedlich em Stuttgart. Sua grande influência artística encontra-se na obra Information Aesthetics, de Max Bense.
Suas principais fases de trabalho são identificadas pela coleção de programas compArt ER56 (1963-65), Walk-through-raster (1966), Matrix multiplation (1967/68) e Generative esthetics I (1968/69).
Frieder Nake é professor titular de ciência da computação na Universidade de Bremen, Alemanha, desde 1972. Também leciona na Universidade das Artes de Bremen, desde 2005. Suas atividades de ensino e pesquisa são em computação gráfica, mídia digital, arte computacional, design de sistemas interativos, semiótica computacional e teoria geral da computação.
Nake esteve representado em todas as importantes exposições internacionais de arte computacional. Tem publições em todas as áreas nas quais atua, em especial suas criações geradas por computador. No artigo de 1971 decretou que não faria mais arte digital, porém retomou essa atividade em 1980.




